Desafios e Oportunidades nas Relações Brasil Estados Unidos
- Alexandre Piquet
- 14 de ago.
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Atualizado: há 1 dia

As relações entre Brasil e Estados Unidos sempre foram marcadas por ciclos. Ao longo das últimas décadas, esses dois países, embora com modelos políticos, econômicos e culturais distintos, souberam se encontrar em pontos estratégicos de cooperação, especialmente nas áreas de comércio, defesa, inovação e investimentos. A atual conjuntura internacional, embora desafiadora, não é exceção, mas sim mais um capítulo nesse processo dinâmico de realinhamento.
Desde a eleição de Donald Trump em 2024, observamos um momento de transição nas relações bilaterais, com menos ênfase nos canais diplomáticos tradicionais e uma aparente retração no diálogo institucional direto. Ainda assim, é preciso lembrar que os laços entre Brasil e Estados Unidos são mais amplos e resilientes do que qualquer mudança de governo, tanto em Washington quanto em Brasília.
Historicamente, as economias dos dois países se complementam, o Brasil oferece recursos naturais, talento humano e um mercado interno robusto, enquanto os EUA aportam capital, tecnologia e um ecossistema empresarial maduro, especialmente atrativo para empresas brasileiras que desejam escalar operações globais. Basta observar o sucesso de inúmeras multinacionais brasileiras instaladas nos EUA, de setores como alimentos, logística, serviços financeiros, aviação e construção civil, que continuam a crescer mesmo em cenários políticos mais turbulentos.
Da mesma forma, os EUA seguem sendo o principal destino de capital brasileiro no exterior, tanto em investimentos empresariais quanto em imigração qualificada. Empresários, profissionais liberais e investidores brasileiros continuam a buscar oportunidades em solo americano, seja por meio de vistos de trabalho, programas de investimento, compras de imóveis ou expansão de suas empresas.
Apesar das eventuais divergências ideológicas entre governos, a relação entre os dois países segue sustentada por interesses estruturais de longo prazo, e é justamente aí que reside o otimismo. As câmaras de comércio binacionais, por exemplo, como a BACCF, Brazilian-American Chamber of Commerce of Florida, entidade na qual servi como presidente por três termos consecutivos, os tratados de cooperação técnica e econômica, os protocolos de facilitação de comércio e os intercâmbios educacionais são pilares que permanecem sólidos, independentemente das nuances políticas de momento.
Além disso, é importante destacar a crescente força do setor privado como protagonista na manutenção desses laços. A atuação de empresas brasileiras nos EUA, os eventos internacionais de negócios, os hubs de inovação e as parcerias com universidades e centros de pesquisa criam uma teia de interdependência que fortalece as relações bilaterais de forma orgânica e descentralizada.
Estamos, sim, diante de um novo ciclo, mas não necessariamente de ruptura. A transição atual pode ser interpretada como uma fase de reposicionamento estratégico, e não como um afastamento definitivo. O cenário internacional está mais complexo, com a ascensão de novas potências, realinhamentos geopolíticos e disputas por influência, mas os EUA seguem sendo um polo de estabilidade jurídica, previsibilidade econômica e oportunidades para quem busca empreender e inovar.
Para os empresários brasileiros que desejam morar, investir ou trabalhar nos Estados Unidos, o momento exige preparo, estratégia e visão de longo prazo, mas está longe de ser um momento de retração. Ao contrário, trata-se de uma janela de oportunidade para quem entende que os movimentos diplomáticos nem sempre refletem, no curto prazo, os fundamentos econômicos e as conexões que, silenciosamente, continuam a se consolidar no mundo real dos negócios.
Como advogado atuante há quase três décadas na interseção entre Brasil e Estados Unidos, posso afirmar com segurança, as oportunidades continuam existindo para quem busca atuar com seriedade, planejamento e visão global. Os ciclos políticos passam. As boas relações econômicas, construídas com confiança, transparência e profissionalismo, permanecem.

Alexandre Piquet é advogado licenciado na Flórida e fundador da Piquet Law Firm, sediada em Miami.
Alexandre Piquet é advogado licenciado na Flórida e fundador da Piquet Law Firm, sediada em Miami. Com 25 anos de experiência em direito empresarial, negócios internacionais, estruturação jurídica de investimentos, tributação e imigração, atua como uma ponte entre o Brasil e os Estados Unidos, assessorando empresários e investidores que desejam expandir fronteiras.
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